Ex-primeira-dama diz que aproximação contradiz valores do partido e ofende memória política de Bolsonaro
A presidente nacional do PL, Michelle Bolsonaro, rompeu o silêncio sobre as articulações eleitorais no Ceará e divulgou nesta terça-feira, 2, uma nota em que rejeita qualquer tentativa de aproximação do partido com Ciro Gomes (PSDB). A manifestação ocorreu durante sua passagem pelo Estado e ocorreu em meio às negociações conduzidas por lideranças do PL cearense.
Michelle justificou que sua oposição não é apenas política, mas também pessoal e moral. Ela afirmou que Ciro é um dos responsáveis por difundir a narrativa que rotulou o ex-presidente Jair Bolsonaro como “genocida”, o que, segundo ela, torna inviável qualquer composição. “Eu jamais poderia concordar em ceder o meu apoio à candidatura de um homem que tanto mal causou ao meu marido e à minha família”, declarou na nota.
Disputa interna e valores em conflito
A ex-primeira-dama afirmou que derrotar o PT ou a esquerda não pode significar abrir mão dos princípios defendidos pelo grupo bolsonarista. Para ilustrar seu argumento, comparou o movimento a trocar “Joseph Stalin por Vladimir Lenin”. Ela também voltou a classificar Ciro como alguém que jamais representaria a direita: “Ciro Gomes não é e nunca será de direita. Nunca defenderá os nossos valores. Sempre será um perseguidor e um maledicente contra Bolsonaro.”
Michelle ainda pediu desculpas aos filhos de Bolsonaro, observando que não pretendia se contrapor a eles. Segundo ela, a posição adotada busca proteger o ex-presidente: “Eu, assim como eles, quero apenas o melhor para o nosso herói, seu pai, meu esposo e o maior líder que esse país já teve – Jair Messias Bolsonaro.”
Como surgiu o impasse no Ceará
A crise começou após o deputado federal André Fernandes (PL-CE) conduzir tratativas entre PL e PSDB envolvendo Ciro Gomes. Durante o lançamento da pré-candidatura de Eduardo Girão (Novo-CE) ao governo estadual, Michelle Bolsonaro deixou clara sua desaprovação à ideia, enfatizando seu apoio ao senador: “Eu adoro o André […], mas fazer aliança com o homem que é contra o maior líder da direita? isso não dá.”
Fernandes respondeu dizendo que sua atuação seguiu orientação do próprio Jair Bolsonaro, que teria solicitado, em 29 de maio, uma conversa com Ciro. A posição de Michelle provocou tensão dentro da família Bolsonaro. Flávio Bolsonaro (PL-RJ) afirmou que a ex-primeira-dama “atropelou o próprio presidente Bolsonaro” ao criticar a articulação, enquanto Carlos Bolsonaro (PL-RJ) e Eduardo Bolsonaro (PL-SP) apoiaram Flávio e defenderam respeito à liderança do ex-presidente. “Foi injusto e desrespeitoso com o André Fernandes o que foi feito no evento”, declarou Eduardo.
Cenário político cearense
Atualmente, o Estado do Ceará é governado por Elmano de Freitas (PT). No Senado, a representação cearense é composta por Augusta Brito (PT), Cid Gomes (PSB) e Eduardo Girão (Novo). O cenário estadual, já marcado por disputas entre grupos tradicionais, ganhou novo foco com o impasse interno do PL sobre a relação com Ciro Gomes.