Marco Bontempo deixa a Operação Sisamnes após alegar esgotamento físico e mental; inquéritos envolvem gabinetes de nove ministros
O delegado da Polícia Federal (PF) Marco Bontempo, que liderava as investigações sobre suspeitas de venda e vazamento de decisões judiciais no Superior Tribunal de Justiça (STJ), optou por deixar o caso alegando motivos pessoais.
Em setembro, Bontempo comunicou aos superiores que não seguiria à frente da Operação Sisamnes, responsável por centralizar várias frentes de apuração sobre o esquema. De acordo com o jornal Folha de S.Paulo, o delegado apresentou sinais de esgotamento físico e mental devido ao estresse acumulado durante a condução do caso.
Delegado prepara transição e relatório das investigações
Com a saída definida, o delegado está elaborando um relatório preliminar que será anexado aos autos do processo sob relatoria do ministro Cristiano Zanin, no Supremo Tribunal Federal (STF). O objetivo é facilitar a transição e garantir continuidade às apurações.
Até o momento, a Polícia Federal ainda não anunciou quem assumirá a coordenação do caso. As investigações continuam sob a responsabilidade da Coordenação de Inquéritos nos Tribunais Superiores, setor vinculado à Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado e à Corrupção.
Inquéritos atingem gabinetes de ministros do STJ
As investigações conduzidas até aqui já identificaram decisões judiciais e citações a gabinetes de pelo menos nove dos 33 ministros do STJ. Apesar das menções, nenhum dos magistrados é formalmente investigado por envolvimento direto na venda ou vazamento das decisões.
Caso teve origem com morte de advogado e celular com mensagens suspeitas
A origem do inquérito remonta à morte do advogado Roberto Zampieri, ocorrida em Cuiabá (MT) no final de 2023. Ao acessar o celular da vítima, a PF encontrou conversas suspeitas com o lobista Andreson de Oliveira Gonçalves.
As mensagens analisadas revelaram pagamentos entre empresários, desembargadores de Mato Grosso e servidores do STJ, levantando suspeitas de comercialização de sentenças judiciais. Segundo a PF, Andreson atuava como elo entre empresários com interesses em processos e servidores de tribunais superiores.
PF apreendeu minutas de votos de ministros durante operação
Durante as diligências da Operação Sisamnes, agentes da PF apreenderam minutas de votos de ministros do STJ. As suspeitas, no entanto, recaem somente sobre servidores alocados nos gabinetes dos ministros. Até o momento, apenas um funcionário foi exonerado pelo tribunal.
Apuração se expande e inclui grupo radical
Com o avanço da investigação, o foco foi ampliado para outros tribunais e passou a incluir integrantes de um grupo denominado C4 — sigla para “Comando de Caça Comunistas, Corruptos e Criminosos”.
Na sexta-feira (3), a PF realizou nova busca e apreensão na residência de Andreson Gonçalves para averiguar o cumprimento de medidas cautelares. Na ação, foi preso o sargento da Polícia Militar aposentado Dejair Silvestre dos Santos, acusado de tentar esconder um celular e obstruir a Justiça.
Atualmente, Andreson cumpre prisão domiciliar em Primavera do Leste (MT) desde julho, após passar oito meses em regime preventivo. De acordo com seus advogados, ele perdeu mais de 30 quilos e apresenta problemas de saúde relacionados a uma cirurgia intestinal realizada em 2020.