Regime de Nicolás Maduro teria oferecido concessões amplas para aliviar tensões com o governo Trump, revela o New York Times
Durante meses, representantes da Venezuela e dos Estados Unidos mantiveram negociações secretas que envolveram propostas ousadas: o regime de Nicolás Maduro estaria disposto a abrir amplamente o acesso norte-americano aos setores de petróleo e mineração do país. A iniciativa teria surgido no auge da crise diplomática entre Caracas e Washington, em meio a acusações de narcoterrorismo e à crescente pressão militar do governo de Donald Trump no Caribe.
Fontes próximas às tratativas afirmaram que Maduro propôs participação de empresas norte-americanas em todos os projetos de exploração de ouro e petróleo, tanto em andamento quanto futuros. A proposta incluía contratos preferenciais, redirecionamento das exportações atualmente destinadas à China e redução de acordos energéticos com Rússia, Irã e China.
Segundo o jornal The New York Times (NYT), que divulgou o caso nesta sexta-feira, 10, as conversas envolveram mais de 12 autoridades venezuelanas e norte-americanas, todas sob condição de anonimato. O objetivo de Caracas seria amenizar a pressão internacional e impedir medidas mais duras por parte da Casa Branca.
Pressão política e papel de Marco Rubio
A escalada das tensões entre os dois países coincidiu com o fim do diálogo diplomático e ameaças diretas à permanência de Maduro no poder. Marco Rubio, então secretário de Estado e conselheiro de segurança nacional, liderou a ofensiva contra o regime, chamando Maduro de “fugitivo da justiça norte-americana”.
Enquanto Rubio defendia uma postura rígida, o enviado especial Richard Grenell buscava um canal diplomático de negociação. Mesmo com divergências internas, parte do governo Trump acreditava que seria possível um avanço diplomático, considerando a imprevisibilidade do então presidente em temas internacionais como Ucrânia, China e Irã.
Maduro flexibiliza ideologia chavista
Nos bastidores, altos funcionários venezuelanos, com aval direto de Maduro, apresentaram concessões que rompiam com o tradicional nacionalismo econômico herdado do chavismo. As conversas com Grenell se concentraram em pautas econômicas, mas não houve consenso sobre o destino político do ditador.
Em entrevista recente, o chanceler Yván Gil afirmou que Maduro “não negociaria sua saída”. Desde 2013, o líder venezuelano vem reprimindo manifestações democráticas e se mantendo no poder após eleições marcadas por denúncias de fraude e violência.
Divisões internas na Casa Branca
Dentro dos Estados Unidos, vozes divergentes avaliaram as negociações de modo distinto. Um funcionário afirmou que as conversas sobre sanções e abertura do mercado “não refletem com precisão o que ocorreu”. Outros, porém, confirmaram que houve discussões frequentes sobre uma possível normalização econômica e acesso preferencial ao setor energético venezuelano.
Enquanto isso, a líder opositora María Corina Machado apresentou em Nova York um projeto que poderia gerar US$ 1,7 trilhão em 15 anos a empresas dos EUA, caso houvesse transição política. Ela foi premiada com o Nobel da Paz neste mesmo dia, 10, por seu trabalho em defesa dos direitos democráticos, conforme destacou o Comitê Norueguês do Nobel. Sua indicação foi feita por Marco Rubio.
Segundo Sary Levy, assessora de María Corina, “os acordos de investimento oferecidos por Maduro nunca se concretizariam sem democracia, estado de direito e liberdades individuais”. Ela acrescentou que “o que Maduro oferece aos investidores não é estabilidade, é controle — controle mantido pelo terror”.
Setor energético e novos acordos
A produção atual de petróleo da Venezuela gira em torno de 1 milhão de barris por dia, número muito inferior aos 3 milhões registrados no início do governo Chávez. Desse total, cerca de 100 mil barris são vendidos à Chevron e destinados aos Estados Unidos.
Para tentar manter o diálogo com Washington, Maduro ampliou a cooperação com empresas americanas. A estatal PDVSA concedeu à Chevron controle total de projetos conjuntos e reabriu negociações com a ConocoPhillips. A Chevron afirmou ao NYT que segue todas as leis aplicáveis dos EUA e da Venezuela.
As tratativas, segundo o jornal, chegaram a um ponto de avanço diplomático em maio, marcadas por gestos de boa vontade: Grenell intermediou o retorno de uma criança venezuelana aos pais deportados, enquanto Maduro libertou um militar norte-americano preso.
Interesses estratégicos e cautela
Fontes próximas às conversas relataram que o regime venezuelano aceitou a maioria dos termos econômicos propostos pelos EUA, mas hesitou diante da exigência de reduzir laços com China, Rússia e Irã. Mesmo assim, Caracas suspendeu o envio de petróleo a Cuba, aprofundando a crise energética da ilha.
A ofensiva diplomática trouxe resultados práticos. Em julho, o Departamento do Tesouro dos EUA devolveu à Chevron a licença para operar no país. Já em outubro, a Shell obteve autorização para produzir gás no campo Dragon, em projeto conjunto com Trinidad & Tobago.
O senador Marco Rubio afirmou que Washington garantiria que o acordo “não beneficiasse significativamente o regime Maduro”. Para demonstrar boa vontade, o ditador autorizou que parte dos investimentos da Shell fosse destinada a projetos sociais, e não diretamente ao governo, sinalizando que a Venezuela ainda busca atrair investidores estrangeiros.