Decisão ocorre após articulação de Ciro Nogueira e Gilberto Kassab contra proposta considerada prioritária pela equipe econômica
Depois da derrota da Medida Provisória (MP) que previa a substituição do IOF, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciou uma ampla reorganização política, removendo aliados de partidos como PP, PSD, PL e MDB de posições estratégicas em órgãos federais.
As mudanças atingem cargos na Caixa Econômica Federal, no Ministério da Agricultura e no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). Segundo integrantes do governo, a decisão é uma resposta direta à atuação dos líderes Ciro Nogueira (PP-PI) e Gilberto Kassab (PSD-SP), apontados como os principais articuladores para a MP perder validade.
Exonerações e retaliações políticas
Entre as demissões já confirmadas está a de José Trabulo Júnior, ex-consultor da presidência da Caixa, indicado por Ciro Nogueira. A saída foi solicitada pela Secretaria de Relações Institucionais, comandada por Gleisi Hoffmann, responsável pela articulação política do Planalto.
“Os deputados optaram por ficar contra o governo em uma votação muito importante”, afirmou Gleisi. “Quem está contra o governo não tem porque permanecer com indicações no governo. Acho que eles já sabiam disso e fizeram opção por sair. Isso atinge todos os partidos.”
Outra mudança ocorreu na vice-presidência de Sustentabilidade e Cidadania Digital da Caixa, anteriormente ocupada por Rodrigo Lemos, ligado ao PL. O cargo passou interinamente a Jean Rodrigues Benevides, diretor-executivo da instituição.
As nomeações para a Caixa vinham sendo negociadas por Arthur Lira (PP-AL), que havia consultado partidos aliados sobre as indicações para as vice-presidências.
Agricultura e DNIT também passam por trocas
O Ministério da Agricultura realizou substituições em quatro superintendências estaduais, afetando diretamente aliados do PSD. As mudanças ocorreram especialmente nos Estados do Paraná e Maranhão, onde deputados do partido votaram contra a MP.
Situações semelhantes foram registradas no Pará e em Minas Gerais, onde o PSD se dividiu entre apoiar e rejeitar o governo. No DNIT, a superintendência de Roraima também foi trocada após o voto contrário da deputada Helena Lima (MDB-RR).
Fontes do governo afirmam que novas exonerações estão em análise. A Secretaria de Relações Institucionais revisa as indicações de parlamentares que contrariaram o Planalto, e há expectativa de mudanças em quase todas as vice-presidências da Caixa ocupadas por apadrinhados partidários.
Apesar das alterações, o governo decidiu manter Carlos Vieira na presidência da Caixa, uma vez que sua indicação teve o aval de Arthur Lira, que não participou da votação da MP. O Executivo também descarta qualquer retaliação ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), considerado colaborativo com o governo.
Bastidores da articulação e o papel da oposição
Nos bastidores, líderes partidários afirmam que Ciro Nogueira e Gilberto Kassab teriam atuado em conjunto com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), para inviabilizar a medida provisória — considerada essencial para o cumprimento da meta fiscal da equipe econômica.
Tarcísio nega qualquer envolvimento direto. Nogueira, contudo, tem defendido a candidatura presidencial do governador paulista, enquanto Kassab tenta construir uma aliança da direita, ocupando atualmente um cargo no governo estadual.
Segundo relatos de parlamentares, Ciro Nogueira teria feito contatos pessoais com deputados para garantir votos contrários à MP. Kassab, por sua vez, teria orientado o líder do PSD na Câmara, Antonio Brito (BA), a liberar exceções pontuais a aliados governistas na Bahia, Ceará e Rio de Janeiro, mas manteve pressão para que a maioria da bancada rejeitasse a proposta.