Ciara Watkin, de 21 anos, afirmou estar menstruada para evitar ser descoberta; caso provocou debate sobre consentimento e identidade de gênero
A britânica Ciara Watkin, de 21 anos, foi condenada a um ano e nove meses de prisão por enganar um homem com quem manteve relações sexuais sem revelar ser uma mulher trans. O episódio, ocorrido em 2022, na cidade de Thornaby, no condado de Teesside (Inglaterra), voltou a ganhar destaque após a sentença proferida pelo Tribunal de Durham, presidido pelo juiz Peter Makepeace.
Justiça considerou que vítima não deu consentimento informado
Durante o julgamento, o tribunal concluiu que o homem, então com 18 anos, não poderia ter dado consentimento informado, uma vez que desconhecia a condição de gênero de Ciara. Ela foi condenada por três acusações de agressão sexual, sob a justificativa de que omitiu deliberadamente informações que alterariam a decisão da vítima.
Conforme os autos, Ciara teria dito ao rapaz que não podia ser tocada abaixo da cintura porque estava menstruada. Além disso, ela utilizava lenços para simular seios e mantinha nas redes sociais um avatar feminino no Snapchat, onde conheceu o parceiro.
A polícia tratou Ciara com pronomes femininos, mas em documentos oficiais descreveu-a como “biologicamente masculina”.
Reações após a revelação e depoimentos emocionados
A vítima relatou que só descobriu a verdade após receber uma mensagem de Ciara revelando seu “grande segredo”. O jovem contou ter ficado enjoado e em choque, chegando a vomitar ao saber da situação.
A mãe do rapaz também prestou depoimento, dizendo que conheceu Ciara pessoalmente e que, na ocasião, estranhou sua voz e aparência. “Logo percebi que algo não parecia certo”, afirmou.
Após a revelação, o rapaz disse à polícia ter se sentido “enganado, humilhado e ridicularizado”, declarando que jamais teria aceitado o encontro se soubesse que Ciara era uma mulher trans. “Sou heterossexual e nunca faria nada com um homem”, disse ele em depoimento reproduzido pela imprensa britânica.
Defesa alegou vulnerabilidade e histórico de bullying
A advogada Victoria Lamballe, responsável pela defesa, argumentou que Ciara sofre de disforia de gênero e possui um “comportamento provocador e impulsivo” agravado por problemas emocionais. Ela afirmou ainda que a cliente “sempre se identificou como mulher desde a infância” e que cresceu em um ambiente de pobreza e forte bullying escolar.
No tribunal, Ciara chorou ao ouvir a defesa dizer que “ela só quer ser vista pelos outros da forma como se enxerga”. A jovem afirmou que pretende realizar a transição física no futuro, mas ainda não iniciou o processo por ter enfrentado problemas com drogas.
Juiz aponta intenção deliberada de enganar
Na sentença, o juiz Peter Makepeace declarou que Ciara “deliberadamente enganou um rapaz de 18 anos que acreditava estar com uma mulher”, classificando o ato como um abuso de confiança e consentimento. Segundo ele, o comportamento da ré foi motivado por uma “frustração de desejar homens heterossexuais e necessidade de enganar para viver essa fantasia”.