Texto da presidência brasileira elimina menção ao fim dos combustíveis fósseis e provoca reação imediata
As críticas ao mais recente rascunho oficial da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30) ganharam força nesta sexta-feira (21), após organizações ambientalistas classificarem o documento preparado pela presidência brasileira como “inútil”, “insuficiente” e “fraco”.
A principal queixa recai sobre a retirada da referência explícita a um plano para eliminar o uso de combustíveis fósseis — um dos pontos centrais esperados para as negociações em Belém.
Organizações exigem que países devolvam o documento
O Greenpeace foi direto: pediu que os governos rejeitem o texto atualizado, divulgado hoje, porque ele retira a orientação considerada essencial para acelerar o abandono de petróleo, gás e carvão.
Para Carolina Pasquali, diretora-executiva do Greenpeace Brasil, o material apresentado falha em fornecer direção concreta.
“Este texto é praticamente inútil, contribui muito pouco para reduzir a lacuna de ambição de 1,5 °C e para pressionar os países a acelerar suas ações. Não resta outra opção a não ser que os países o rejeitem e o devolvam à presidência para revisão”, afirmou.
Primeira versão tinha avanço sobre hidrocarbonetos
Na terça-feira (18), a presidência da COP30 havia apresentado um rascunho inicial contendo a proposta de eliminar gradualmente os hidrocarbonetos tradicionais — medida que contava com o apoio de pelo menos 80 países. Entre as possibilidades sugeridas, estava a criação de uma “mesa redonda ministerial” destinada a orientar governos na construção de estratégias para reduzir sua dependência dos combustíveis fósseis.
Pasquali ressaltou que essa iniciativa vinha ganhando adesão e insistiu para que ela retorne ao texto final da cúpula.
Segundo ela, somente relatórios e debates adicionais não bastam:
“Precisamos de um plano de resposta global e, sem esse roteiro, estamos novamente perdidos, sem uma orientação concreta, tateando no escuro enquanto o tempo se esgota”.
350.org vê falhas e ausência de direção real
A organização 350.org manifestou posição semelhante, ao afirmar que o novo rascunho “fica muito aquém do grande salto necessário para fechar a lacuna da ambição climática”.
O diretor adjunto de Políticas e Campanhas da entidade, Andreas Sieber, avaliou que a falha mais séria é a ausência de um caminho explícito para eliminar progressivamente os combustíveis fósseis.
“O mais grave é que não oferece um plano claro e sólido para eliminar progressivamente os combustíveis fósseis. A inclusão de um mecanismo de Transição Justa é uma verdadeira conquista multilateral (…) mas sem um plano de transição para acabar com o petróleo, o gás e o carvão, continuamos alimentando as chamas”, afirmou.
Sieber também criticou o recuo observado na parte financeira do documento, especialmente no que diz respeito ao compromisso de triplicar o apoio à adaptação climática.
“Não podemos alcançar a justiça a baixo custo”, concluiu.
Países vulneráveis ficam expostos, diz Greenpeace Internacional
Outra reação veio de Rebecca Newsom, especialista em políticas financeiras do Greenpeace Internacional. Para ela, o texto deixa novamente desamparadas as nações mais afetadas pela crise climática.
Segundo Newsom, o rascunho faz com que “os países vulneráveis sejam novamente deixados à própria sorte para lidar com os impactos crescentes das mudanças climáticas”.
Grupo de 36 países também rejeita exclusão do tema
A mobilização da sociedade civil encontrou eco diplomático. Um bloco composto por 36 países informou que não aceitará a retirada da rota para o fim dos combustíveis fósseis no documento final, cuja votação está prevista ainda para esta sexta-feira — último dia programado da COP30.