Investigação médica revela fatores genéticos e de estilo de vida que podem explicar longevidades excepcionais
Maria Branyas, reconhecida como a pessoa mais velha do mundo até agosto de 2024, foi tema de uma investigação científica que acaba de revelar detalhes inéditos sobre o que pode distinguir os chamados supercentenários — indivíduos que ultrapassam os 110 anos de vida.
Nascida em 1907, nos Estados Unidos, e criada na Espanha, Branyas viveu 117 anos e 168 dias, tornando-se uma das raríssimas pessoas a atingir tal marca. Embora não tenha superado o recorde absoluto de Jeanne Calment (122 anos, falecida em 1997), seu caso despertou grande interesse científico.
Um estudo sem precedentes
Durante a comemoração de seu 116º aniversário, uma equipe de pesquisadores espanhóis coletou amostras de sangue, saliva, fezes e urina de Branyas, com seu consentimento. As análises, publicadas na revista Cell Reports Medicine, ofereceram um panorama detalhado sobre como o corpo humano pode resistir ao envelhecimento extremo.
Os especialistas descobriram que envelhecer não significa necessariamente adoecer. Apesar de apresentar sinais típicos da idade, Maria Branyas manteve-se livre de câncer, diabetes e doenças cardiovasculares, além de não apresentar demência até seus últimos dias. Apenas em sua fase final desenvolveu artrose, condição comum que geralmente aparece décadas antes.
Corpo resiliente e mente lúcida
O estudo revelou que muitos processos metabólicos de Branyas permaneceram funcionais ao longo do tempo. Curiosamente, seus telômeros — estruturas que protegem os cromossomos — estavam bastante encurtados. Isso, segundo os cientistas, pode ter limitado a divisão celular e contribuído para sua resistência ao câncer.
Outro achado relevante foi o baixo nível de inflamação crônica, um dos principais marcadores do envelhecimento. Mesmo enfrentando infecções virais, incluindo a COVID-19, ela demonstrou um sistema imunológico eficaz e estável, sem sinais de doenças autoimunes.
Além disso, sua microbiota intestinal chamou a atenção por apresentar alta diversidade bacteriana — muito superior à observada em um grupo controle de mulheres espanholas entre 61 e 91 anos. Essa diversidade está associada a uma regulação genética equilibrada e a uma melhor resposta imunológica.
Genética e estilo de vida: uma combinação poderosa
Os genes certamente exerceram papel essencial, mas os cientistas destacam que apenas 10% a 25% da longevidade média pode ser explicada pela hereditariedade. No caso de Branyas, o estilo de vida parece ter tido impacto significativo.
Ela seguia uma dieta mediterrânea, rica em peixes e azeite de oliva, e mantinha-se fisicamente ativa e socialmente engajada — fatores conhecidos por favorecer a saúde cardiovascular e mental. Seu perfil lipídico também era notavelmente equilibrado, com níveis elevados de colesterol HDL (o “bom”) em relação ao LDL (o “ruim”).
Além disso, a maneira como lidava com eventos traumáticos, como a morte de seu filho aos 80 anos, revelou uma impressionante capacidade emocional de adaptação, algo que os pesquisadores apontam como crucial para a longevidade.
Um adeus sereno
Em seu último aniversário, já aos 117 anos, Maria Branyas declarou sentir-se pronta para partir, resumindo sua trajetória em uma frase simples: “Lágrimas felizes.” Ela faleceu tranquilamente na noite de 17 de agosto de 2024, deixando um legado científico e humano sobre o potencial do corpo e da mente diante do tempo.