Alto-comissário de Direitos Humanos pede investigações independentes e combate ao “racismo sistêmico”
O Alto-Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, defendeu nesta quarta-feira, 29, uma reforma profunda nas práticas de policiamento no Brasil, um dia depois da megaoperação policial contra o Comando Vermelho (CV) no Rio de Janeiro, que terminou com 121 mortos e 113 presos.
A operação, considerada uma das mais letais da história do estado, foi classificada pelo governador Cláudio Castro como um sucesso. Segundo o governo fluminense, os agentes apreenderam mais de 90 fuzis nos complexos do Alemão e da Penha, elevando para 686 o total de armas desse tipo retiradas de circulação em 2025, o que representa um recorde anual.
Apesar dos números, o episódio gerou forte repercussão nacional e internacional, com críticas de setores da esquerda e da Organização das Nações Unidas (ONU).
ONU vê padrão de violência e pede investigações independentes
“Compreendo plenamente os desafios de lidar com grupos criminosos violentos e organizados como o Comando Vermelho; no entanto, a longa lista de operações que resultam em muitas mortes – que afetam desproporcionalmente pessoas negras – levanta questões sobre a forma como essas incursões são conduzidas”, declarou Türk.
O alto-comissário destacou que a ação visava cumprir cerca de cem mandados judiciais, mas terminou com 121 mortos, o que, segundo ele, exige investigações rápidas, independentes e eficazes.
Türk pediu que o país rompa o ciclo de brutalidade extrema e adote uma estratégia nacional de segurança pública baseada em direitos humanos. Ele reforçou que o uso da força letal deve respeitar os princípios de legalidade, necessidade, proporcionalidade e não discriminação, sendo permitido somente em situações estritamente necessárias para proteger vidas.
ONU cobra enfrentamento ao “racismo sistêmico”
A ONU também destacou a urgência de combater o que chamou de “racismo sistêmico” nas ações policiais. Segundo o órgão, cerca de 5 mil pessoas negras são mortas por agentes de segurança todos os anos no Brasil, em sua maioria jovens moradores de áreas empobrecidas.
“É hora de acabar com um sistema que perpetua o racismo, a discriminação e a injustiça. Violações não podem ficar impunes”, afirmou Türk. “Processos adequados de responsabilização devem levar à verdade e à justiça para evitar mais impunidade e violência.”
Guterres manifesta preocupação com mortes no Rio
O secretário-geral da ONU, António Guterres, também se manifestou por meio de seu porta-voz, Stephane Dujarric, expressando preocupação com o alto número de vítimas. Guterres defendeu que o uso da força policial siga as normas internacionais de direitos humanos e pediu investigação imediata sobre o caso.
A pressão internacional amplia o debate interno sobre o modelo de segurança pública brasileiro e a necessidade de políticas que conciliem o combate ao crime com o respeito aos direitos fundamentais.