Edinho Silva volta a comentar megaoperação e diz que ausência de políticas públicas deixou jovens vulneráveis ao crime
Mais de um mês depois da Operação Contenção no Rio de Janeiro, o presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), Edinho Silva, retomou as críticas ao episódio e à resposta governamental. Ao se referir às imagens que circularam do Complexo do Alemão, ele afirmou que a cena evidencia uma “falência governamental” e a falta de ações destinadas aos adolescentes que cresceram sem oportunidades.
Segundo Edinho, o cenário visto na principal via do Alemão não pode ser comemorado como êxito de política de segurança. Ele voltou a insistir que o problema começa muito antes de confrontos policiais.
“Não podemos bater palmas para mais de 120 corpos estirados no chão. Isso mostra que o Estado falhou, que o Estado não teve políticas públicas para disputar com o crime organizado adolescentes que foram excluídos de qualquer oportunidade“, declarou. Ele afirmou ainda que a exposição dos jovens mortos deve gerar vergonha e reflexão, não aplausos: “Corpos de jovens negros expostos com sinal de falência governamental, da não existência de políticas públicas nos territórios, e não fazer coro para um senso comum hegemonizado pelo discurso de uma elite hipócrita.“
Em publicação no X, o dirigente afirmou que o PT precisa sustentar suas posições mesmo sob críticas externas: “Eu sei que enfrentar a opinião pública não é fácil, mas é para isso que o PT existe, para defender o que correto, estar do lado certo da história“.
Fundação Perseu Abramo divulga cartilha alinhada às críticas de Edinho
A fala de Edinho chega dias após a Fundação Perseu Abramo, instituição ligada ao PT, lançar uma cartilha dedicada à segurança pública. O material segue uma linha semelhante ao discurso do presidente do partido e cita como inspiração o “trabalho iniciado em 2022 pelo Instituto Cidadania, hoje Instituto Lula“.
Logo em seu início, a cartilha atribui ao presidente Lula a condução da operação Carbono Oculto, descrita como exemplo de atuação voltada à inteligência policial. O documento afirma:
“Característica fundamental da atuação do PT na segurança pública: mais planejamento, inteligência, ciência e tecnologia para alcançar os verdadeiros chefes das facções e também os criminosos que atuam nos bairros e ruas, provocando pavor e pânico na população. Ou seja, queremos atingir toda a cadeia do crime organizado — dos ‘peixes grandes’ aos ‘peixes pequenos’ que causam medo em nossas famílias.“
O texto ainda reforça que “foi isso que ocorreu no terceiro governo do presidente Lula, com a maior operação da história do Brasil, a Carbono Oculto”.
Entretanto, autoridades envolvidas na apuração apresentam outra versão. O coronel aposentado da Polícia Militar José Vicente da Silva afirmou que o caso foi elaborado inicialmente pelo Ministério Público de São Paulo e pela Receita Federal, destacando: “A Polícia Federal só foi convidada depois, porque outros estados apareceram nas investigações“.
Cartilha prioriza reformas estruturais antes do debate sobre uso da força
Após capítulos introdutórios, o documento da Fundação Perseu Abramo direciona o foco para o tema “Reformas estruturais para uma segurança pública antirracista, cidadã e democrática“. Somente em seguida aborda “Política do uso da força e coordenação das organizações policiais“.
O posicionamento indica que, para o PT, a reestruturação das instituições policiais é o elemento central da política de segurança — e não a repressão direta ao crime. O texto explica que mudanças significativas no sistema brasileiro ocorreram pela última vez nos anos 1960, durante a ditadura, e que a Constituição de 1988 não rompeu totalmente com aquele modelo.
“A última grande reforma do sistema policial brasileiro ocorreu no final dos anos de 1960 para atender aos propósitos da ditadura civil-militar. A Constituição Cidadã de 1988 avançou no reconhecimento da segurança pública como um direito social fundamental, porém manteve o arranjo policial deficitário, reproduzindo os monopólios corporativos dos policiamentos e estimulando os conflitos de competência entre as agências federais, estaduais e municipais“, aponta o documento.
A cartilha conclui afirmando que “infelizmente, a transição democrática conservou muitos elementos dos períodos autoritários“.