Edital da UFPE reserva 80 vagas em Caruaru para assentados da reforma agrária e gera disputa política
A decisão da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) de reservar 80 vagas no curso de Medicina do Centro Acadêmico do Agreste, em Caruaru, exclusivamente para participantes do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), abriu uma onda de críticas entre entidades médicas e provocou debate acalorado na política estadual e nacional.
Como funcionará a seleção
As aulas devem começar em outubro de 2025. O edital determina que apenas beneficiários do Pronera — como assentados da reforma agrária vinculados ao MST, além de quilombolas e educadores do programa — podem disputar as vagas.
O processo seletivo não inclui o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) nem o Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Na primeira etapa, bastava preencher um formulário on-line e anexar documentos exigidos, prazo encerrado em 20 de setembro. A fase seguinte prevê a produção de uma redação sobre o contexto do Pronera e a análise do histórico escolar do ensino médio.
Entidades médicas contestam
Em nota conjunta, o Conselho Regional de Medicina de Pernambuco, o Sindicato dos Médicos, a Associação Médica e a Academia Pernambucana de Medicina condenaram o modelo.
Segundo as entidades, a proposta “afronta os princípios da isonomia e do acesso universal”, ao criar um sistema paralelo de ingresso. Elas defendem que a ausência do Enem compromete a credibilidade acadêmica da universidade.
Pronera e parcerias institucionais
A coordenadora-geral de Educação, Arte e Cultura do Campo do Incra, Clarice dos Santos, explicou que o curso resulta de uma articulação que envolveu o Incra, organizações do campo, a UFPE e ministérios, especialmente o da Saúde. Para ela, a iniciativa busca ampliar a presença de médicos oriundos de comunidades rurais e populares.
Repercussão política
Na Assembleia Legislativa de Pernambuco, o tema dominou a sessão da última terça-feira (23). O deputado Coronel Alberto Feitosa (PL) criticou os critérios adotados, que classificou como “arbitrários e de difícil fiscalização”, acusando a UFPE de privilegiar o MST.
Em contraponto, a deputada Dani Portela (PSOL) saiu em defesa do Pronera:
“Quando mexe com direito, veterinária e medicina, parece incomodar bastante uma parte da elite brasileira que não admite ver pobre na universidade”.
O vereador recifense Thiago Medina (PL) anunciou que apresentará denúncia contra a universidade, alegando ferimento ao princípio da isonomia e uso de verba pública de forma injustificada.
No plano federal, o deputado Rodolfo Nogueira (PL-MS) protocolou uma representação no Tribunal de Contas da União (TCU) contra a UFPE, acusando desvio de finalidade e utilização política de recursos públicos na parceria com o Incra.