Pronunciamento adota tom de campanha e reforça retórica de “luta de classes”, enquanto Planalto enfrenta críticas por gastos e cargos
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva utilizou uma cadeia nacional de rádio e TV neste domingo (30) para anunciar um conjunto de medidas fiscais que, segundo ele, pretendem reduzir a desigualdade e corrigir distorções do sistema tributário brasileiro.
Apesar da mensagem oficial, o pronunciamento acabou marcado por um tom fortemente eleitoreiro e pela insistência no discurso da “luta de classes” — estilo que críticos veem como desconectado da prática cotidiana do próprio governo, frequentemente acusado de manter estruturas de privilégios e gastos ampliados.
Anúncio de mudanças no Imposto de Renda
Lula afirmou que a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda, já sancionada, passará a beneficiar quem recebe até R$ 5 mil por mês, medida que entra em vigor em janeiro de 2026.
O presidente disse ainda que trabalhadores com renda entre R$ 5 mil e R$ 7 mil terão redução da alíquota, atingindo cerca de 20 milhões de brasileiros com isenção e mais 5 milhões com algum desconto.
Ele reforçou que, historicamente, “a elite econômica pagou menos impostos do que trabalhadores comuns”. A fala, embora coerente com o discurso da esquerda, provocou reações de quem aponta que o próprio governo segue ampliando despesas, cargos e repasses a grupos aliados.
Novo imposto para quem ganha acima de R$ 50 mil
Para compensar a perda de arrecadação, o governo criou um imposto progressivo para pessoas físicas que recebem acima de R$ 50 mil mensais — cerca de 140 mil brasileiros, o equivalente a 0,1% da população.
As novas alíquotas começam em 0% e podem chegar a 10% para rendas superiores a R$ 100 mil. O Planalto argumenta que contribuintes que já pagam essa alíquota ou mais não sentirão impacto.
Lula diz combater privilégios, mas discurso soa contraditório
No pronunciamento, Lula afirmou:
“Ao longo de 500 anos de história, a elite brasileira acumulou mais e mais privilégios.”
E acrescentou que é “vergonhoso” que ricos paguem proporcionalmente menos Imposto de Renda do que trabalhadores assalariados.
Entretanto, a defesa apaixonada do combate a privilégios causou estranhamento entre analistas e até entre apoiadores moderados. Isso porque o governo tem sido questionado pelo aumento de ministérios, ampliação de cargos comissionados e negociações políticas que envolvem liberação de verbas — práticas frequentemente criticadas quando envolvem outros partidos.
Justiça tributária ou discurso de campanha?
Lula argumentou que a nova legislação busca corrigir distorções e combater a concentração de renda. Porém, o tom empregado — especialmente nas referências históricas — reforçou a impressão de que o pronunciamento mirou mais em reforçar uma narrativa eleitoral do que em detalhar tecnicamente a reforma.
O presidente concluiu dizendo:
“Seguiremos firmes, combatendo os privilégios de poucos para defender os direitos e as oportunidades de muitos.”
Para críticos, a frase resume a estratégia do discurso: forte no simbolismo, fraca em coerência, considerando que o próprio governo enfrenta constantes denúncias de favorecimento político, gastos elevados e estruturas que dificilmente combinam com a ideia de “fim dos privilégios”.