Proposta em debate no Congresso limita despesas regionais e ignora privilégios federais
Teto de gastos atinge apenas entes subnacionais
A proposta de Reforma Administrativa em análise no Congresso Nacional prevê a criação de um teto de gastos válido exclusivamente para Estados e municípios, deixando de fora a administração federal — justamente o setor que concentra a maior parte dos gastos públicos, além de privilégios e benefícios significativos.
O texto é de autoria do deputado Pedro Paulo (PP-RJ) e também estabelece limites para a criação de secretarias nos entes subnacionais. No entanto, não impõe qualquer restrição à atual quantidade de ministérios existentes no governo federal.
União concentra quase metade dos gastos públicos
Segundo dados do Instituto Gasto Brasil, a União responde por 44% dos gastos governamentais em 2024. Até o último sábado, a execução orçamentária havia alcançado R$ 3,9 trilhões, distribuídos da seguinte forma:
- R$ 1,7 trilhão da União
- R$ 1,1 trilhão dos 27 Estados
- R$ 1,1 trilhão dos 5.570 municípios
Apesar disso, a proposta atual da Reforma foca apenas nos Estados e municípios, deixando intocadas as despesas da máquina federal.
Contenção de despesas e pressão sobre entes locais
O debate se insere no contexto de pressão por contenção de gastos públicos. No âmbito do Poder Judiciário, por exemplo, o custo anual já soma R$ 146,5 bilhões, sendo:
- R$ 91,7 bilhões da Justiça Estadual
- R$ 15,9 bilhões da Justiça Federal
Ainda assim, a proposta não inclui medidas que afetem diretamente a esfera federal de forma abrangente.
Especialistas criticam exclusão da União e do STF
Para o professor e especialista em direito administrativo Elimar Mello, o Supremo Tribunal Federal (STF) “se excluiu do teto”, o que, segundo ele, limita o alcance das medidas propostas.
“O Congresso só pode cortar no Executivo e no Legislativo”, afirma.
A análise reforça as críticas à proposta por não enfrentar os principais vetores de gasto da União, ao mesmo tempo em que impõe restrições aos entes federativos mais dependentes da arrecadação central.
Reações e disputas políticas
Aliados do governo defendem que a iniciativa visa padronizar as regras fiscais e enxugar a estrutura administrativa local. Já os críticos apontam uma assimetria preocupante: sem ajustes na estrutura federal — especialmente no número de ministérios —, o peso da contenção poderá recair desproporcionalmente sobre Estados e municípios.
Tramitação e próximos passos
A proposta ainda precisa avançar nas comissões da Câmara antes de ser votada em plenário e, posteriormente, seguir para o Senado Federal. Caso seja aprovada, exigirá:
- Adequação de leis locais
- Períodos de transição para implementação do teto nos Estados e prefeituras