Ministra usa exemplo pessoal para defender investigações, mas comentário gera questionamentos sobre tom e abordagem
A ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), voltou a tratar publicamente do inquérito que investiga a tentativa de suposto golpe de Estado, desta vez durante a Conferência Literatura e Democracia, realizada no sábado (29) pela Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro.
Diante de questionamentos recorrentes sobre o tema, a ministra respondeu de forma incisiva — e, para alguns observadores, até excessivamente dramática.
“Meu filho, se tivesse dado golpe, eu estava na prisão”
Cármen Lúcia relatou que tem ouvido de críticos, especialmente apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que o STF não deveria julgar algo que “não se concretizou”.
Em resposta, ela declarou:
“Outro dia me perguntaram por que estão julgando tentativa de golpe. Meu filho, se tivesse dado golpe, eu estava na prisão, não estava aqui julgando, vamos combinar.”
A frase, embora aplaudida pelo público presente, chamou atenção pelo tom pessoal, deslocando o debate jurídico para o campo simbólico — algo que adversários do STF já apontam como um problema na comunicação da Corte.
Fala ocorre em meio ao avanço das investigações
O comentário chega num momento em que o STF e a Polícia Federal intensificam apurações sobre a suposta articulação envolvendo militares, aliados e assessores do ex-presidente para impedir a posse do presidente eleito em 2022.
Mesmo assim, a postura adotada por Cármen Lúcia tem sido vista por alguns analistas como mais retórica do que explicativa, deixando pouco espaço para um debate técnico sobre competência e fundamentos jurídicos.
Ministra compara autoritarismo a “ervas daninhas”
Durante o evento, Cármen Lúcia insistiu que a sociedade deve se manter vigilante contra ameaças autoritárias.
Ela afirmou que regimes de exceção funcionam como pragas que precisam ser arrancadas pela raiz, comparando iniciativas antidemocráticas a “ervas daninhas que precisam ser cortadas e vigiadas”.
Embora a mensagem apele à defesa da democracia, o discurso reforça a impressão de que a ministra tem preferido metáforas fortes e declarações de impacto — estilo que, segundo críticos, contribui para ampliar a percepção de distanciamento entre o STF e parte da população.