Ministro do STF fez contatos diretos com Gabriel Galípolo enquanto banco enfrentava investigação e risco de intervenção
Antes da decretação da liquidação extrajudicial do Banco Master, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes manteve uma série de contatos com o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, com o objetivo de interceder pela instituição financeira controlada pelo empresário Daniel Vorcaro.
A informação foi revelada pela coluna da jornalista Malu Gaspar, do jornal O Globo, e confirmada por múltiplas fontes ligadas ao Banco Central.
Pressões e contatos frequentes com o BC
De acordo com os relatos, Alexandre de Moraes procurou Gabriel Galípolo pelo menos quatro vezes. Três desses contatos teriam ocorrido por telefone, enquanto um deles foi uma reunião presencial solicitada pelo próprio ministro.
Segundo integrantes do Banco Central ouvidos pela equipe do blog da Malu Gaspar, Moraes buscava informações sobre o andamento da operação de venda do Banco Master para o BRB. Em julho deste ano, o ministro chegou a pedir que Galípolo fosse encontrá-lo pessoalmente para tratar do assunto.
Relatos de bastidores e defesa do banqueiro
As conversas foram descritas pelo blog da Malu Gaspar por seis fontes distintas ao longo das últimas três semanas. Uma delas ouviu diretamente do próprio Moraes o relato do encontro. As demais tomaram conhecimento dos contatos por meio de funcionários do Banco Central.
Durante uma das conversas, conforme relatado por um interlocutor, Moraes afirmou que tinha apreço pessoal por Vorcaro e repetiu um argumento frequentemente utilizado pelo banqueiro: o de que o Banco Master estaria sendo atacado por ganhar espaço dos grandes bancos.
Além disso, o ministro pediu que o Banco Central aprovasse a operação de venda para o BRB, anunciada em março, mas ainda pendente de autorização da autarquia reguladora. Àquela altura, já circulava em Brasília a informação de que havia divisão interna no BC sobre a possibilidade de intervenção no banco.
Fraudes e mudança de cenário
Na resposta, Galípolo informou a Moraes que técnicos do Banco Central haviam identificado fraudes no repasse de R$ 12,2 bilhões em créditos do Banco Master para o BRB. Diante dessa revelação, segundo os relatos, o ministro reconheceu que, caso a fraude fosse confirmada, a operação não poderia ser aprovada.
Em 18 de novembro, no mesmo dia em que a Polícia Federal prendeu Daniel Vorcaro e outros seis executivos sob acusação de envolvimento nas fraudes, o Banco Central decretou a liquidação extrajudicial do Banco Master.
Procurados para comentar os fatos, nem Alexandre de Moraes nem Gabriel Galípolo se manifestaram.
TCU entra no caso e cobra explicações
Na sexta-feira (19), o episódio ganhou um novo capítulo. O ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Jhonatan de Jesus determinou, por meio de medida cautelar, que o Banco Central envie esclarecimentos e documentos sobre o processo de liquidação do Banco Master.
A autarquia tem prazo até a próxima terça-feira (23) para remeter as informações solicitadas ao TCU. A decisão ocorre dentro de um processo que apura uma possível omissão do Banco Central diante das operações realizadas pelo banco.
A iniciativa, no entanto, causou estranheza entre especialistas, já que o TCU não possui atribuição legal para interferir diretamente em negociações entre instituições privadas do sistema financeiro.