Deputado condenado a 16 anos diz estar “seguro” no exterior e aposta que Justiça americana rejeitará acusações do STF
O deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) voltou a tensionar sua relação com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Em vídeo publicado no domingo (30), o parlamentar — já condenado a 16 anos por participação na suposta tentativa de golpe de Estado — desafiou o ministro a enviar um pedido formal de extradição aos Estados Unidos, país para onde se mudou após deixar o Brasil.
Ramagem provoca Moraes e diz que EUA responderão à “juristocracia”
No vídeo, Ramagem afirmou que Moraes teria de levar “toda a ação do golpe” ao crivo de um juiz federal norte-americano. Segundo ele, os Estados Unidos dariam uma resposta àquilo que caracterizou como “juristocracia” e “arbitrariedade” no Brasil — expressões que ele tem repetido ao criticar decisões do STF.
O deputado também declarou estar “seguro” em território norte-americano e sugeriu ter sido “abraçado” pelo governo de Donald Trump, alegando que sua permanência no país tem anuência das autoridades locais.
PF investiga saída do país; extradição depende do governo brasileiro
A Polícia Federal investiga se Ramagem deixou o Brasil por Boa Vista (RR), possivelmente passando por Venezuela ou Guiana antes de chegar aos EUA.
A saída ocorreu após Moraes determinar sua prisão, atendendo a pedido da PF.
A Câmara dos Deputados informou que Ramagem não tinha autorização oficial para viajar ao exterior, apesar de ter apresentado atestados médicos entre setembro e dezembro.
Caso o STF formalize o pedido de extradição, o processo passa pelo governo brasileiro, e a decisão final cabe à gestão Trump.
O caso remete ao episódio envolvendo Allan dos Santos, cuja extradição já foi negada pelos EUA — que não consideram crimes como difamação e calúnia como motivos válidos pelo tratado bilateral.
Moraes determina perda de mandato e exoneração na PF
Na terça-feira (25), Alexander de Moraes determinou que a Câmara dos Deputados casse o mandato de Ramagem, que permanece fora do país.
Segundo o ministro, com o trânsito em julgado e a ausência do parlamentar, ele estaria impedido de exercer suas funções.
“Oficie-se à presidência da Câmara sobre a perda do mandato parlamentar”, escreveu Moraes, citando o artigo 55 da Constituição.
O ministro também ordenou ao Ministério da Justiça que exonere Ramagem do cargo de delegado da Polícia Federal. Além disso, comunicou o Tribunal Superior Eleitoral para formalizar sua inelegibilidade.
Todo o conluio a narcoterroristas e financiamento a ditaduras na América Latina estão sendo desvendados e serão combatidos.
— Alexandre Ramagem (@delegadoramagem) November 30, 2025
Maduro deve ser o primeiro. A juristocracia garantidora do narcoestado lulopetista está na fila, sob análise e deliberação. pic.twitter.com/SgfqmXdvhM
Decisão envolve também Bolsonaro e ex-ministros
Moraes estabeleceu o trânsito em julgado das condenações para:
- Jair Bolsonaro
- Braga Netto
- Anderson Torres
- Augusto Heleno
- Almir Garnier
- Paulo Sérgio Nogueira
Segundo o ministro, “esgotaram-se as possibilidades de impugnação interna”, permitindo a execução das penas.
Especialista aponta que cassação não é automática
Apesar da determinação de Moraes, a jurista Vera Chemim, mestre em Direito Público Administrativo pela FGV, afirma que o trânsito em julgado não autoriza a perda automática do mandato.
Segundo ela, a decisão final cabe exclusivamente ao plenário da Câmara, o que torna o episódio ainda mais sensível politicamente.