Deputados apontam suposta atuação indevida do ministro em favor do Banco Master
Parlamentares da oposição protocolaram nesta segunda-feira, 29, no Congresso Nacional, um pedido de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes, integrante do Supremo Tribunal Federal. A iniciativa foi liderada pelo deputado Cabo Gilberto Silva, líder da oposição na Câmara, em conjunto com o deputado Marcel van Hattem.
O pedido conta com a subscrição de mais de 100 deputados federais e senadores. No documento, os signatários sustentam que o ministro teria cometido crime de responsabilidade ao adotar condutas consideradas incompatíveis com a honra, a dignidade e o decoro exigidos pelo cargo.
Supostas intervenções junto ao Banco Central
Segundo os parlamentares, Alexandre de Moraes teria realizado reiteradas intervenções junto ao presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, para tratar de assuntos relacionados ao Banco Master. A instituição financeira é alvo de investigações por suspeitas de fraudes bilionárias no sistema financeiro nacional.
De acordo com a denúncia, reportagens jornalísticas indicam que o ministro manteve ao menos quatro contatos diretos com a cúpula do Banco Central para discutir a situação do Master e o andamento de uma operação de venda de ativos ao Banco de Brasília (BRB). Os deputados ressaltam que esses contatos teriam ocorrido apesar de indícios de irregularidades e de divergências técnicas internas sobre a necessidade de intervenção no banco.
Trecho da denúncia aponta interferência indevida
O documento apresentado ao Congresso afirma que a conduta atribuída ao ministro extrapola os limites da função jurisdicional. Segundo o texto, “A conduta atribuída ao Ministro Alexandre de Moraes revela uma sequência de pressões diretas e reiteradas sobre autoridade administrativa autônoma (Presidente do Banco Central) em favor de interesses privados da instituição financeira Banco Master, então sob investigação por fraudes sistêmicas, comportamento que extrapola a esfera de atuação jurisdicional e adentra em terreno de interferência indevida em competência técnica de outro órgão constitucionalmente independente”.
Apontado conflito de interesses envolvendo escritório da esposa
A denúncia também sustenta a existência de um grave conflito de interesses. Os parlamentares afirmam que o escritório de advocacia da esposa do ministro, Viviane Barci de Moraes, mantinha contrato de prestação de serviços com o Banco Master.
O acordo previa pagamentos de R$ 129 milhões ao longo de três anos e tinha como objeto a atuação do escritório junto a órgãos diretamente ligados às decisões que envolviam a instituição financeira, como o Banco Central, a Receita Federal, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e o Congresso Nacional.
Van Hattem cobra atuação do Senado
Ao comentar a iniciativa, Marcel van Hattem afirmou que o caso exige uma resposta imediata do Senado Federal. “Estamos diante de fatos extremamente graves, que indicam interferência indevida em órgão constitucionalmente autônomo, conflito de interesses e possível favorecimento privado. Quando há indícios consistentes de crime de responsabilidade, como é o caso de Moraes, cabe ao Senado cumprir seu papel e promover a devida apuração, para preservar a credibilidade das instituições e o equilíbrio entre os Poderes. Ninguém está acima da lei”, declarou o deputado.
Tramitação do pedido de impeachment
Após ser protocolada, a denúncia contra um ministro do STF passa a tramitar no Senado sob a denominação de Petição (PET). Cabe ao presidente da Casa despachar a proposta, encaminhando-a inicialmente à Advocacia do Senado, que realiza uma análise técnica.
Na sequência, o pedido é submetido à Comissão Diretora. Somente após essas etapas a matéria pode ser levada à deliberação dos senadores. Caso avance, o julgamento poderá seguir rito semelhante ao do impeachment de presidente da República, conforme previsto na Lei nº 1.079, de 1950.