Dmitry Muratov Foto EFE EPA Stian Lysberg Solum POOL Dmitry Muratov Foto EFE EPA Stian Lysberg Solum POOL

Nobel da Paz russo pede cessar-fogo e fala em “ameaça real” de guerra nuclear

Dmitry Muratov deu declarações durante videoconferência do Subcomitê de Direitos Humanos do Parlamento Europeu

Nesta quinta-feira (3), o jornalista russo Dmitry Muratov, vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 2021, pediu “um cessar-fogo incondicional e uma trégua” na invasão da Ucrânia pela Rússia. Ele enfatizou que “há uma ameaça real de guerra nuclear”.

Muratov, de 60 anos, foi um dos fundadores, em 1993, do jornal independente Novaya Gazeta, do qual é editor-chefe. A publicação é “uma importante fonte de informação sobre aspectos censuráveis da sociedade russa que raramente são mencionados por outros meios de comunicação”, de acordo com o Comitê Nobel Norueguês.

– Há uma ameaça real de guerra nuclear – disse Muratov.

Ele deu declarações durante um discurso por videoconferência no Subcomitê de Direitos Humanos do Parlamento Europeu.

O jornalista lembrou que o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, disse na quarta-feira (2) que “a terceira guerra mundial seria uma guerra nuclear”. Muratov imagina que “ele estava se referindo ao que está acontecendo na Europa Central”.

O vencedor do Prêmio Nobel da Paz considera ainda que “o maior perigo” na atualidade é “a possibilidade, a ameaça de uma resposta nuclear, que (o presidente russo, Vladimir) Putin já havia indicado quando disse que se os Estados Unidos interviessem (na guerra na Ucrânia), a resposta que daria seria algo que nunca tinha sido visto antes na história”.

– Tudo isso soa como um pesadelo, mas não excluo a possibilidade de que, em um dado momento, eles sejam tentados a apertar o botão vermelho – declarou.

Ele pediu “um cessar-fogo incondicional e uma trégua, que deveria ser o foco das negociações”, para “evitar uma catástrofe humanitária, salvar civis inocentes”. O jornalista defendeu “corredores humanitários, acesso aos feridos” e troca de prisioneiros, além de pedir quer que “aqueles que morreram na luta possam ser enterrados”.

O vencedor do Nobel afirmou que “ninguém jamais imaginou que a Rússia atacaria a Ucrânia, que aviões russos bombardeariam Kiev e destruiriam Kharkiv e que as forças russas entrariam no país”.

Dmitry comentou que “tem havido repetidas ameaças de uso de força nuclear, mísseis nucleares, diferentes tipos de armas nucleares” e que essa ameaça “agora é comum para as autoridades”.

O jornalista lembrou que no Parlamento da Rússia “um vídeo interessante foi recentemente apresentado sobre o lançamento de mísseis contra os Estados Unidos”.

– Agora, há que se considerar que a possibilidade de uma guerra nuclear está se tornando muito comum. Está sendo falada nas estações de rádio, nos canais de televisão. E eu acho isso extremamente preocupante – declarou.

MÍDIAS INDEPENDENTES NA RÚSSIA

Muratov lamentou o fechamento de veículos de mídia independentes na Rússia, como a rádio Eco de Moscou, na quarta-feira (2). Ele encorajou as pessoas a procurarem outros veículos de informação na internet que não sejam os oficiais.

Segundo o jornalista, o povo russo é esmagadoramente contra a guerra e o Parlamento atual “não o representa”.

– Por favor, não confunda os russos com seus líderes, que são os que iniciaram esta atrocidade. O futuro de nossos filhos foi cortado por esta guerra. Estou em contato com várias pessoas, inclusive as dos círculos de elite, e as elites são monolíticas, estão muito consolidadas – ressaltou.

Dmitry Muratov contou que visitou ontem o ex-presidente soviético Mikhail Gorbachev no dia em que ele completou 91 anos, no hospital onde está internado.

– Ele rejeita categoricamente a possibilidade de uma guerra nuclear. Entretanto, não sei a quem nossas autoridades vão dar ouvidos. Só escutam uma pessoa – disse.


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