Transparência Internacional critica fala do ministro e alerta para gravidade do lobby judicial no país
A Transparência Internacional respondeu de forma dura ao ministro Gilmar Mendes, decano do Supremo Tribunal Federal (STF), após ele afirmar que acha “engraçado” o apelido “Gilmarpalooza” usado para se referir ao Fórum Jurídico de Lisboa. O evento, promovido pela faculdade de Direito ligada ao ministro, reúne anualmente em Portugal figuras centrais da política brasileira, incluindo magistrados, ministros de Estado e parlamentares.
Gilmar diz achar graça; ONG reage
Em entrevista à BBC, Gilmar comentou o apelido em tom descontraído: “A gente acha engraçado. A rigor, é um case de sucesso”.
A fala provocou reação imediata da Transparência Internacional, que classificou a postura como insensível diante do que chama de cenário preocupante de lobby judicial. Em nota, a ONG escreveu:
“O ministro decano do STF pode achar graça, mas certamente a sociedade brasileira não está rindo de banquetes, viagens e outros luxos pagos a juízes por empresários como Daniel Vorcaro e Joesley Batista.”
A organização afirmou ainda que “o lobby judicial hoje no Brasil é uma ameaça ao interesse público tão ou mais grave que o lobby parlamentar”.
O ministro decano do STF pode achar graça, mas certamente a sociedade brasileira não está rindo de banquetes, viagens e outros luxos pagos a juízes por empresários como Daniel Vorcaro e Joesley Batista.
November 26, 2025
O lobby judicial hoje no Brasil é uma ameaça ao interesse público tão ou… https://t.co/Jsa8ukp7k9
Empresários ligados ao evento acumulam interesses na Justiça
A crítica da ONG se concentra especialmente no financiamento do Fórum de Lisboa. Segundo a entidade, empresas e empresários que patrocinam o encontro possuem interesses milionários em julgamento no próprio STF.
Entre os citados está Daniel Vorcaro, presidente do banco Master, preso em investigação sobre fraude bilionária. Também aparece Joesley Batista, coproprietário do grupo J&F, holding que controla o frigorífico JBS.
A JBS — dos irmãos Batista — admitiu na Operação Lava Jato ter pago propinas a dezenas de políticos. O grupo firmou um acordo que previa multa de R$ 10,3 bilhões, mas alegou posteriormente ter sido coagido. Com isso, conseguiu decisão do ministro Dias Toffoli, que suspendeu a penalidade.
ONG já havia criticado evento em julho
A Transparência Internacional reforçou que o Fórum de Lisboa não é apenas um encontro acadêmico, mas um ambiente propício para pressão sobre autoridades. Em julho, a ONG chegou a classificar o “Gilmarpalooza” como “o maior evento de lobby do planeta”.