Prefeito de Kiev deu ordem para demolir o monumento
Poucos restos sobraram da estátua que comemorava a amizade entre os povos da Rússia e da Ucrânia no centro de Kiev. Ela foi erguida como uma referência à união, mas o buraco que sobrou é agora o símbolo da inimizade e da guerra que afeta milhões de ucranianos.
O prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, deu nesta semana a ordem de demolir o monumento à Amizade, erigido em 1982 para comemorar a “reunificação” dos dois países dentro da União Soviética.
– Com a Rússia, tudo acabou. Este monumento foi construído para comemorar a reunificação com a Rússia. Devemos transformá-lo em um monumento da unificação das terras ucranianas. Removê-lo é absolutamente correto – disse Klitschko. Até mesmo o arquiteto do monumento, Serhiy Myrhorodsky, concordou.
A história da Ucrânia, uma terra de fronteiras, tem sido marcada pelo domínio em diferentes épocas e em diferentes regiões pela Polônia e Rússia, sob cuja influência territórios como Kharkiv estão desde o século XVI, enquanto outros como Lviv permaneceram fora dela até 1945.
FOTOS SOBRE “MOMENTO HISTÓRICO”
Apesar dos laços históricos com Moscou, não é fácil encontrar alguém em Kiev que se oponha à demolição. Pelo contrário, todos os dias centenas de pessoas vão ao local onde ela ficava para registrar, com fotos, um símbolo da nova era em que a Ucrânia está entrando.
Um soldado da Defesa Territorial ucraniana, segurando sua câmera, afirmou que fotografou o local por “fazer parte de um momento histórico”.
– Era um monumento desnecessário aqui, era um símbolo da escravidão. Os russos sempre nos dominaram e pensaram que éramos seus servos, e isso acabou para sempre – declarou.
NOVOS NOMES PARA RUAS “RUSSAS”
Apenas podem ser vistos agora os pés do que antes eram dois trabalhadores segurando uma estrela com as inscrições “Amizade entre os povos” e “URSS”. Os restos da estátua de oito metros de altura estão guardados no museu militar da cidade.
A remoção foi mais uma parte de um processo que está por vir: a mudança de cerca de 400 ruas que se referem ao passado soviético e a remoção de muitas outras esculturas que honram o passado soviético. A que era dedicada a Lênin, erguida em 1939, já tinha sido removida em 2013.
Morador de Kiev, Mikhail, de 67 anos, foi à praça para ver como o trabalho está progredindo. Ele acha que o monumento deveria ter sido removido há muito tempo.
– A amizade entre os povos mencionada nessa estátua foi destruída pela Rússia em 2014. Então, foram eles que derrubaram a estátua, não nós – afirmou o homem, de barba branca, em tom de indignação.
INIMIZADE ETERNA?
O ano de 2014 está gravado na mente dos ucranianos como o momento em que o conflito irrompeu.
A revolução conhecida como Euromaidan, também chamada de Primavera Ucraniana, de 2013 e 2014, e a fuga do presidente Viktor Yanukovych foram seguidas pela invasão da península da Crimeia pela Rússia, que a anexou sem o reconhecimento da comunidade internacional.
Também fotografando o local onde ficava a estátua em Kiev, Dima, de 36 anos e nascido na Crimeia, acredita que o sentimento de inimizade com a Rússia será duradouro. – Eu sou ucraniano, não russo. Eu nunca, nunca, nunca apoiarei o governo russo. Acho que nunca mais seremos amigos depois disso – afirmou ele, cuja família também se mudou para a capital ucraniana