Desembargadora do TRF-1, responsável por soltar o dono do Banco Master, contou com o mesmo grupo de advogados ao enfrentar acusação de fraude em 2010
A decisão que colocou Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, em liberdade voltou a destacar o nome da desembargadora Solange Salgado, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1). O que chamou atenção é que a magistrada já havia sido representada pelo mesmo escritório de advocacia que hoje atua na defesa do banqueiro.
Caso antigo envolvendo a Ajufer
Em 2010, uma auditoria interna da Associação dos Juízes Federais da 1ª Região (Ajufer) identificou 45 contratos de empréstimos simulados firmados com a Fundação Habitacional do Exército (FHE/Poupex). Os valores chegavam a R$ 6 milhões, mas o prejuízo estimado pela instituição superava R$ 20 milhões.
Os documentos assinados por ex-presidentes da entidade — incluindo Solange Salgado, Moacir Ferreira Ramos, Charles Renaud e Hamilton Dantas — mencionavam ainda o uso indevido de dados de magistrados, contas de terceiros e movimentações consideradas suspeitas.
No ano seguinte, 40 juízes solicitaram abertura de investigação disciplinar. O corregedor Cândido Ribeiro instaurou processo administrativo e apontou irregularidades nos contratos analisados. A punição aplicada a Solange posteriormente foi anulada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) por falta de quórum, mas as conclusões da auditoria permaneceram válidas.
Defesa conduzida pelo escritório Bottini & Tamasauskas
Durante o processo, Solange Salgado teve a defesa conduzida pelo escritório Bottini & Tamasauskas Advogados, de Pierpaolo Cruz Bottini — o mesmo que hoje representa Daniel Vorcaro.
Dois advogados do escritório, incluindo Bottini, integram a equipe que atua no caso do Banco Master.
Ações e denúncias rejeitadas pelo TRF-1
Na época, o TRF-1 rejeitou por unanimidade uma denúncia contra Solange sobre a suposta venda irregular de uma sala comercial. A acusação contra Moacir Ramos, porém, foi recebida. O Ministério Público Federal alegava que o negócio teria servido para quitar dívidas dos magistrados com a Poupex.
A desembargadora também foi denunciada por possível apropriação de valores ligados a empréstimos feitos pela Ajufer em nome de juízes que não tinham conhecimento das operações — seis magistrados seriam apontados como beneficiários de cerca de R$ 6 milhões.
Carreira no Judiciário
Solange tem trajetória consolidada no sistema judicial. Formada em 1985, foi promotora em Minas Gerais, defensora no Rio de Janeiro, juíza no TJ-RJ e, desde 1992, atua na Justiça Federal. Também exerceu funções no Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão, no TRF-1 e em cargos administrativos no Distrito Federal.
Além disso, lecionou em instituições como o Ceuma, o Cejuma, a Associação de Ensino Unificado do DF e o Uniceub.
Virada no caso Vorcaro
No processo envolvendo o Banco Master, Solange inicialmente manteve a prisão dos investigados. Dias depois, no entanto, considerou que a viagem internacional de Vorcaro estava justificada e que não havia risco concreto de fuga — substituindo a prisão por medidas cautelares.