Sergiy Stakhovsky deixou o esporte após invasão russa e atua hoje em missões militares de alto risco com drones na Ucrânia
O ucraniano Sergiy Stakhovsky, ex-tenista que entrou para a história ao derrotar Roger Federer em Wimbledon em 2013, hoje atua em um cenário muito diferente do esporte. Três anos após o início da invasão russa à Ucrânia, ele integra o Centro de Operações Especiais Alpha, do Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU), participando de missões militares que destruíram bases aéreas e depósitos de mísseis russos, gerando prejuízos bilionários ao governo de Vladimir Putin.
Do tênis à linha de frente
Nascido em Kiev, filho de um médico e de uma professora universitária, Stakhovsky começou no tênis ainda criança. Aos 12 anos, sua família se reuniu para decidir se valia a pena continuar no esporte. A aposta deu certo: anos depois, disputou a final júnior do US Open contra Andy Murray, conquistou seu primeiro título da ATP em 2008 — em Zagreb, ao derrotar Ivan Ljubičić — e chegou ao auge em 2013, quando eliminou Federer em Wimbledon, encerrando a sequência de 36 quartas de final consecutivas do suíço em Grand Slams.
Mas a carreira parou em 24 de fevereiro de 2022, quando a Rússia invadiu a Ucrânia. Sem avisar seus três filhos, Stakhovsky voltou ao país e se alistou nas Forças de Defesa Territorial, onde começou atuando com morteiros antes de ser transferido para o setor de drones de longo alcance.
“Minha mãe ligou de manhã cedo dizendo: ‘Há explosões enormes por toda parte’. Liguei a TV e vi algo que nunca esquecerei — o horizonte de Kiev em chamas”, relatou o ex-tenista ao portal United24Media.
Missões secretas e danos bilionários
Atualmente, Stakhovsky participa de operações de sabotagem e reconhecimento aéreo. Ele afirma ter tomado parte em ataques a bases e depósitos russos em Engels, Toropets e Krasnodar, usando drones militares de longo alcance.
Entre as missões mais marcantes está a Operação Teia de Aranha, em que drones FPV lançados de caminhões danificaram 41 aeronaves russas, causando perdas estimadas em US$ 7 bilhões.
“Pequenos grupos podem fazer grandes coisas. Se esses são os testes mais tranquilos, imagine os difíceis”, comentou o militar e ex-atleta.
Segundo ele, o Centro Alpha já destruiu mais de US$ 5 bilhões em equipamentos russos, sem contar refinarias e outras infraestruturas estratégicas.
Um campeão em outro tipo de luta
Stakhovsky diz que a guerra mudou completamente sua percepção de vitória e derrota.
“No tênis, você perde e volta a jogar. Na guerra, você perde e perde vidas — a sua ou a dos seus companheiros”, refletiu.
Apesar da rotina militar intensa, ele guarda lembranças do esporte com carinho e vê semelhanças entre o tênis e o campo de batalha: disciplina, preparo mental e resistência.
“Adoro tênis, mas fiquei quase dois anos e meio sem assistir a uma partida. Esporte e guerra têm algo em comum: você luta até o fim, mesmo exausto.”
Ruptura com antigos colegas russos
O ex-tenista contou ainda que rompeu relações com atletas russos após a anexação da Crimeia em 2014. Antes da guerra, mantinha amizade com Mikhail Youzhny e Andrey Rublev, mas cortou contato após a invasão.
“Hoje, eles continuam competindo internacionalmente, mas sem bandeiras. Não há amizade possível quando o seu país está sendo bombardeado.”
Reconhecimento oficial
Em 2025, o presidente Volodymyr Zelensky assinou uma lei expandindo o efetivo da unidade Alpha para 10 mil integrantes, reconhecendo sua importância estratégica nas operações de defesa. Stakhovsky segue ativo, participando de missões em território russo.
“Engels, Toropets, Toropets-2 — estive em todas”, afirmou, referindo-se a bases aéreas atacadas por drones ucranianos.