Presidente brasileiro defende comércio em moedas locais e reacende tensão diplomática sobre o “tarifaço”
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar o uso do dólar nas transações internacionais, dias antes de seu encontro com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, marcado para o próximo domingo (26), na Malásia, durante a Cúpula da ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático).
Em discurso realizado nesta quinta-feira (23) no Palácio Merdeka, na Indonésia, Lula reiterou a defesa do comércio entre países do BRICS — e entre nações emergentes — com base em moedas locais, e não na moeda norte-americana.
“Nós queremos multilateralismo e não unilateralismo. Nós queremos democracia comercial e não protecionismo. Tanto a Indonésia quanto o Brasil têm interesse em discutir a possibilidade de comercialização entre nós dois ser com as nossas moedas. Essa é uma coisa que nós precisamos mudar”, afirmou o presidente.
Dólar volta ao centro das tensões com os EUA
A defesa de Lula pelo uso de moedas próprias no comércio internacional é considerada uma das pautas mais sensíveis na relação entre Brasília e Washington. A proposta de reduzir a dependência do dólar tem sido um dos principais eixos do BRICS, grupo que inclui Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã.
Nos Estados Unidos, o tema causa forte reação política e econômica. Segundo fontes do governo norte-americano, a pressão contra a desdolarização foi um dos motivos para a imposição do tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros.
O próprio Donald Trump já declarou publicamente que a perda da hegemonia do dólar “teria o mesmo impacto que perder uma guerra”.
Encontro bilateral e negociações
O encontro entre Lula e Trump deve abordar justamente a revisão tarifária imposta pelos EUA e mecanismos de cooperação comercial entre os dois países. O Itamaraty vê o diálogo como uma oportunidade para reduzir tensões e reafirmar o papel do Brasil como parceiro estratégico independente.
A viagem à Malásia ocorre após Lula concluir uma série de compromissos diplomáticos na Indonésia, incluindo encontros com líderes asiáticos e reuniões preparatórias do BRICS ampliado.