Gestão petista mantém silêncio sobre premiação da líder opositora venezuelana; Celso Amorim diz que prêmio tem “viés político”
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) optou por não se pronunciar oficialmente nesta sexta-feira (10) sobre a escolha da líder opositora venezuelana María Corina Machado como vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 2024. A ativista, que vive na clandestinidade e sob ameaças do regime de Nicolás Maduro, foi reconhecida pelo Comitê Norueguês do Nobel por sua luta em defesa da democracia e dos direitos humanos na Venezuela.
Apesar de ter participado de um evento público no mesmo dia, Lula não mencionou a premiação. Até o fim da tarde, nenhum ministério ou órgão do governo federal havia emitido nota oficial sobre o tema.
Ausência de posicionamento e postura anterior
O silêncio da gestão petista chamou atenção, sobretudo porque em 2023 o governo brasileiro divulgou comunicado oficial elogiando a escolha da organização japonesa Nihon Hidankyo, formada por sobreviventes das bombas atômicas, como vencedora do Nobel da Paz daquele ano.
Historicamente, o Brasil não mantém uma linha fixa de pronunciamentos sobre os laureados, mas neste caso, o vínculo político de Lula com Maduro e a sensibilidade diplomática do tema contribuíram para a ausência de comentários públicos.
Amorim critica “viés político” do prêmio
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o embaixador Celso Amorim, assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, afirmou que a escolha de María Corina Machado reflete um viés político e demonstrou preocupação com as possíveis consequências da premiação.
“Não questiono o prêmio Nobel em relação às qualidades pessoais e morais dela. Para o Brasil, interessa o impacto que isso possa eventualmente ter na questão da pacificação e da reconciliação na Venezuela. Tem gente especulando o mais negativo, que isso aí é preparação para um ataque. Será péssimo se for isso”, declarou.
Amorim também avaliou que a decisão do comitê norueguês tem uma perspectiva “muito europeia” e “distante da realidade venezuelana”, reforçando que o governo brasileiro busca evitar interpretações políticas externas sobre o caso.
Resistência interna a um pronunciamento oficial
Fontes do Palácio do Planalto afirmam que há divergências dentro do governo sobre como reagir à premiação. Uma das vozes contrárias a qualquer manifestação pública é a do próprio Celso Amorim, que considera mais prudente manter o distanciamento diplomático.
Em suas declarações, o assessor de Lula chegou a concordar com críticas feitas por integrantes do governo Trump sobre a politização do Nobel.
“Eu acho que ele tinha razão. Foi dada prioridade à questão política”, afirmou Amorim, referindo-se a uma publicação feita pelo ex-integrante da Casa Branca Steven Cheung, atual diretor de Comunicação e assistente de Donald Trump.
Comparação com críticas americanas
Em resposta ao prêmio, Steven Cheung publicou mensagem no X (antigo Twitter) defendendo o ex-presidente Trump e criticando o Comitê Nobel:
“O presidente Trump continuará fazendo acordos de paz, acabando com guerras e salvando vidas. Ele tem o coração de um humanitário, e nunca haverá ninguém como ele, capaz de mover montanhas com a força de sua vontade. O Comitê Nobel provou que eles colocam a política acima da paz”, escreveu.